sábado, 29 de março de 2008

Arrependido de ser andarilho, Júnior Amorim quer longevidade e política

O CRB atravessa um momento extremamente conturbado. Além de uma crise financeira. E é nesse ambiente tenso que o atacante Júnior Amorim conseguiu se encontrar pela primeira vez na carreira. Depois de passar por "uns 20 clubes", como ele mesmo definiu, o jogador de 35 anos se consolidou como ídolo e referência da torcida alvirrubra de Maceió. Tanto é que ele já faz planos para utilizar essa popularidade e seguir a carreira política.

Neste ano, Júnior Amorim disputará a prévia do PT do B. Se vencer, será candidato a vereador de Maceió pelo partido. Ainda que seja eleito, porém, o jogador planeja disputar mais duas temporadas antes de encerrar a carreira. E depois disso, pensa em seguir se dividindo entre os deveres políticos e os campos de futebol.

"Vivo nesse meio há muito tempo e acho que tenho condições de fazer as duas coisas. Pretendo jogar mais dois anos, não mais do que isso. Depois, é claro que eu não vou conseguir me afastar totalmente do futebol. Só ainda não sei como eu vou seguir", disse Amorim em entrevista exclusiva ao Pelé.Net.

Nos dois anos que ainda terá pela frente, Amorim tem uma meta pessoal para alcançar. O jogador está a três gols de se isolar como o maior artilheiro do CRB em competições nacionais - ele foi contratado pelo clube em 2006, saiu durante o ano e voltou na temporada passada.

A meta pode parecer modesta, mas reflete um novo momento na vida de Júnior Amorim. Mais experiente, o jogador decidiu encerrar o perfil de "andarilho" que vinha tendo - caminho, aliás, que ele se arrepende de ter tomado. E uma das justificativas para o fim da instabilidade na carreira do atacante é justamente a afinidade gerada com o clube e a torcida do CRB.

Você foi um dos principais destaques do CRB na Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado e seu nome foi envolvido em uma série de especulações sobre possíveis saídas. Você chegou a receber propostas? Se sim, por que decidiu permanecer?

Júnior Amorim - Eu acho que fiz uma Série B muito boa, sim. Fui um dos artilheiros do CRB e fui procurado por algumas equipes. Recebi ofertas de Guarani e Ponte Preta para disputar o Campeonato Paulista, além de clubes como América-RJ e Madureira para participar do Estadual do Rio de Janeiro. Mas decidi ficar aqui, entre outras coisas, porque pretendo me candidatar a uma vaga na Câmara dos Vereadores nas próximas eleições.

A idéia de se ligar à política já revela um plano para abandonar os gramados ou você pretende conciliar as duas atividades?
Júnior Amorim - Posso atuar nos dois campos. Vivo nesse meio há muito tempo e acho que tenho condições de fazer as duas coisas. Pretendo jogar mais dois anos, não mais do que isso. Depois, é claro que eu não vou conseguir me afastar totalmente do futebol. Só ainda não sei como eu vou seguir.

Como surgiu esse interesse pela política?

Júnior Amorim - Acho que o pontapé inicial foi no ano passado. Alguns conselheiros do clube que são do mundo da política viram a minha popularidade com a torcida e me perguntaram se eu tinha interesse em me candidatar. Eu disse que não tinha pretensões, mas não fechei as portas. Mas eles me filiaram ao partido e as coisas foram acontecendo naturalmente. Meu nome tem surgido com muita força por causa da minha popularidade.

Por que você acha que o seu nome tem tanta força no cenário político? Só pelo sucesso nos gramados?

Júnior Amorim - A política de Maceió está bastante defasada. As pessoas vêem muitas irregularidades, deputados sendo afastados, coisas ilícitas acontecendo. Isso tudo compromete a credibilidade. Acho que eles se animaram quando viram uma pessoa diferente e com sangue novo, que não tem as malícias do meio.

Você tem estudado para a nova carreira? Já definiu uma plataforma de governo?

Júnior Amorim - Até agora não foi elaborado nada, nem conversado com o presidente do partido. Eu só sou pré-candidato e dependo de o meu nome ser aprovado na convenção da sigla para saber se eu vou poder concorrer. Só quando isso estiver certo é que nós vamos começar a pensar em como agir. Mas com certeza será algo com muita atenção ao esporte.

Você tem uma trajetória repleta de clubes em seu currículo. A que você atribui tamanha instabilidade?

Júnior Amorim - Acho que é um reflexo da falta de uma base sólida na formação familiar. Eu estava trabalhando em um lugar recebendo X, mas saía para receber X e meio em outro clube mesmo se não fosse um projeto tão sólido. Tive de rodar bastante para aprender e só mudei de cinco anos para cá. Passei por uns 20 clubes em menos de 20 anos.

O sentimento por ter migrado tanto entre equipes é de arrependimento?

Júnior Amorim - Eu me arrependo, sim. Poderia ter conseguido uma estabilidade muito maior se tivesse ficado um pouco mais nos lugares. Joguei em praticamente todas as capitais do norte e do nordeste do país, sempre em clubes com muita tradição. Também passei pelo União São João e pela Portuguesa em São Paulo, além do Botafogo e o América-RJ no Rio [o atacante foi revelado pelo Vasco]. Acho que eu devia ter mudado menos.

E por que uma mudança radical de comportamento justamente no CRB?

Júnior Amorim - Eu nunca tive em lugar nenhum o carinho que recebo aqui. Já fui xodó de outras equipes, mas nada tão intenso. Até quando eu erro passes eu sou aplaudido pelos torcedores. Acho que as coisas foram acontecendo naturalmente, principalmente pela minha entrega em campo. O clube não tinha uma referência no elenco havia muito tempo.

Apesar dessa identificação, a diretoria chegou a cogitar negociar você durante o Estadual porque você tem o maior salário do elenco. Alguém chegou a falar com você sobre essa hipótese?
Júnior Amorim - Foi uma saída cogitada porque o Estadual gera menos receita que a Série B. Mas eu também não queria jogar o Paulista ou o Estadual do Rio em três ou quatro meses e nem ter a certeza do que aconteceria depois. A diretoria se reuniu e conseguiu arrumar um jeito de pagar meu salário. Aí ficou tudo por isso mesmo.

Você tem 18 gols pelo CRB em competições nacionais e está a dois de igualar o recorde do clube. Essa meta pessoal serve como incentivo de alguma forma ou você procura levar com naturalidade?

Júnior Amorim - Ah, não. Eu quero muito entrar para a história do clube, até para retribuir todo o carinho. Aqui eu sou ídolo até das torcidas rivais e isso me motiva muito. Atingir essa marca importante seria uma forma de recompensar esse carinho.


Fonte: pele.net

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